VÍDEO: Com músicos cegos, banda inova ao usar instrumentos feitos de vidro no interior de SP
02/12/2025
(Foto: Reprodução) Banda une arte, ciência e inclusão com instrumentos feitos de vidro no interior de SP
Com uma ideia ousada e poética, um grupo musical une arte, ciência e inclusão ao tocar instrumentos de vidro, em São Carlos (SP). Carrilhão, caxixe, xequere e o clássico triângulo são alguns dos inusitados objetos musicais tocados em sua maioria por pessoas com deficiência visual.
Focado em um repertório 100% brasileiro, com muita MPB e releituras, o grupo Sons Vítreos já ecoou por várias cidades do Brasil e em países como a Escócia e a Holanda.
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A atriz Rosemeire Alves da Silva está no grupo desde o início e comentou que a banda representa possibilidades inovadoras na música.
"Estou no grupo desde 2016 e toco triângulo de vidro. Para mim, o grupo representa uma novidade no mundo porque tem orquestras com instrumentos convencionais e de vidro não se acha. A nossa é única no mundo e significa um avanço muito grande nos instrumentos e na tecnologia. Poder tocar um instrumento de vidro é muito legal e me apresentou para outras culturas e países, é uma alegria muito grande estar no grupo", disse.
No total, são 11 integrantes no grupo, sendo 3 com baixa visão e 4 cegos totais.
Rosemeire Alves da Silva, a Rose Romãs, durante apresentação do Sons Vítreos
Marcella Rosolen
Inspiração científica
Criado em 2016 para celebrar os 40 anos do Laboratório de Materiais Vítreos (LAMAV), da UFSCar, o Sons Vítreos nasceu a partir de uma inspiração do professor Edgar Zanotto, pesquisador e fundador do laboratório.
O professor tocava berimbau, e isso virou o ponto de partida para a criação de um berimbau de vidro e de outros instrumentos de percussão mais diferentões. Junto a estes, outros convencionais, como o violão e a sanfona dão o tom dos acordes.
"A ideia era fazer um berimbau de vidro, entre outros instrumentos, para tocar junto com peças tradicionais em músicas variadas. Músicos amadores e profissionais, com e sem deficiência visual, se reuniram uma apresentação e, desde então, seguimos divulgando ciência e arte de forma inclusiva", contou Karina Lupetti, coordenadora do grupo.
Grupo Sons Vítreos durante turnê internacional
Arquivo pessoal
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Ciência e arte
Os instrumentos de vidro são confeccionados por Ademir Sertori, hialotécnico da UFSCar, utilizando vidro de borosilicato, material mais resistente ao calor e a impactos do que o vidro comum. O hialotécnico é especialista na arte ou técnica de trabalhar o vidro, seja de forma científica ou artística.
Apesar da fragilidade natural, Karina garante que com cuidado, as peças duram bastante e muitas podem até ser reparadas em caso de pequenos danos.
"Os instrumentos são mais frágeis, se cair, podem quebrar mais facilmente que convencionais, mas se bem cuidados, duram bastante tempo, além de poderem ser consertados dependendo da situação", disse.
Instrumentos percussivos de vidro são destaque no grupo Sons Vítreos de São Carlos
Marcella Rosolen
Acessibilidade e arte
Karina é professora de diretora do Ouroboros, núcleo de divulgação científica e cultural da UFSCar. Ela informou que pensar acessibilidade em todas as etapas, dos ensaios às apresentações , é um desafio permanente, mas também uma fonte de histórias e aprendizados que acompanham a evolução do projeto.
"É um grupo diverso e marcante, então, é gratificante serem reconhecidos pelos participantes em outros eventos. A experiência de pensar acessibilidade e inclusão do começo ao fim de cada projeto é um grande desafio, mas juntos conseguimos seguir e acumular boas histórias para contar", disse.
Rolês internacionais
Ao longo da trajetória, o Sons Vítreos ultrapassou fronteiras. Já se apresentou em eventos de comunicação pública da ciência na Nova Zelândia (2018), Holanda (2023) e Escócia (2025). Em 2026, o Sons Vítreos completa 10 anos e pretende seguir “tocando em frente”, como brincam os músicos.
Com perfil de participantes diversos, a banda se tornou referência ao misturar criatividade, pesquisa e acessibilidade. Segundo os integrantes, a recepção costuma ser marcante por onde passam e desperta curiosidade, além de emocionar o público.
Sons Vítreos durante passagem por Aberdeen na Escócia
Arquivo pessoal
De acordo com a coordenadora, o grupo está aberto a novos integrantes, sem exigência de formação profissional, e quer continuar agregando pessoas interessadas em arte, ciência ou inclusão.
Para a nova fase, a busca por apoiadores é importante para garantir a continuidade dos ensaios e o deslocamento dos integrantes para apresentações.
Com instrumentos únicos e uma proposta que desafia limites, eles seguem afinando ciência, música e diversidade e ampliando vozes que, juntas, ressoam muito além do vidro.
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