Mundo pode registrar primeira alta em mortes infantis em 25 anos

  • 09/12/2025
(Foto: Reprodução)
Rede SUS recebe vacina contra vírus sincicial respiratório Depois de 25 anos de queda contínua, o mundo deve voltar a registrar um aumento nas mortes de crianças menores de 5 anos. A projeção faz parte do relatório Goalkeepers 2025, da Fundação Gates, que estima um salto de 4,6 milhões de mortes em 2024 para 4,8 milhões em 2025 — um acréscimo de 200 mil vidas perdidas em apenas um ano. O documento descreve 2025 como um “ponto de virada” em que avanços tecnológicos convivem com sistemas de saúde fragilizados, cortes em financiamento e desigualdades ampliadas. A combinação, segundo os autores, ameaça desfazer parte do progresso que reduziu pela metade a mortalidade infantil desde o início dos anos 2000. Prefeitura de BH prorroga campanha de vacinação contra a paralisia infantil Divulgação/PBH Por que as mortes estão voltando a subir Não há uma única causa, mas uma convergência: queda nas coberturas vacinais, enfraquecimento da atenção primária, retorno de doenças evitáveis, insegurança alimentar e vulnerabilidade social, sistemas de saúde sobrecarregados e desiguais. Para o pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o cenário global reflete uma “combinação perigosa”. Ele cita queda nas taxas de vacinação, aumento da pobreza e impacto residual da Covid-19 na estrutura de saúde: “É um conjunto de fatores que pressiona todos os indicadores. A pandemia desacelerou muito as quedas e expôs fragilidades profundas. Quando sistemas de saúde não conseguem responder, esses retrocessos aparecem primeiro nas crianças.” Kfouri relembra que a mortalidade neonatal — mortes nos primeiros 28 dias — continua sendo um dos pontos mais críticos. “As principais causas de morte infantil ainda estão associadas à gestação, ao parto e às infecções preveníveis. A chave para virar esse jogo está justamente nas vacinas e no fortalecimento da atenção básica.” Vacina contra a Covid-19 passa a fazer parte do calendário nacional de vacinação infantil de rotina Prefeitura de Jundiaí/Divulgação Vacinação baixa aumenta internações e mortes O relatório aponta que a queda na vacinação é um dos fatores centrais para o aumento das mortes infantis. No Brasil, essa relação já aparece na prática: hospitais registram mais internações e óbitos por doenças evitáveis, especialmente entre não vacinados. Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o pediatra Juarez Cunha explica que a baixa adesão a vacinas que já estão disponíveis leva a um aumento imediato de internações e de mortes: “Quando uma vacina deixa de ser aplicada, reflete nos números. No Rio Grande do Sul, a maioria das pessoas que foram internadas e morreram por influenza este ano não estava vacinada —e estamos falando de uma vacina que está disponível.” Ele relembra que, entre crianças, a cobertura de gripe não chegou a 50% em 2024, o que amplia o número de casos graves. A pediatra Isabella Balallai, também diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que o efeito não é apenas individual: “Com baixa adesão, a demanda explode. E, dependendo da estrutura do serviço de saúde, isso leva a consequências muito importantes, não só para a criança, mas para a saúde pública inteira.” Atenção primária frágil amplia risco de mortes evitáveis Segundo o relatório, até 90% das mortes infantis poderiam ser evitadas com atenção primária forte, que inclui: pré-natal adequado, acompanhamento do bebê, acesso a vacinas, detecção precoce de infecções, nutrição segura. Cunha reforça essa visão: “Grande parte das mortes infantis é evitável. O pré-natal de qualidade é decisivo, porque muitos óbitos ocorrem no período neonatal. Se não cuidamos bem da gestante, essa morte aparece depois no bebê. Inovações que podem reverter a tendência O documento destaca avanços capazes de salvar milhões de vidas: Vacinas maternas, como a do vírus sincicial respiratório (VSR), recém-introduzida no Brasil. Esquemas reduzidos de pneumocócica (PCV), que mantêm proteção e reduzem custos. Tecnologias contra malária, como mosquiteiros com duplo inseticida e mapas digitais para direcionar ações. Tratamentos de longa ação para HIV, que diminuem novas infecções e mortes em bebês. Para Cunha, a vacinação materna contra o VSR é emblemática: “É uma estratégia com impacto enorme: protege o bebê antes mesmo do nascimento. Mas, para funcionar, a adesão precisa melhorar — e isso vale para todas as vacinas da gestante, como gripe, Covid-19, coqueluche.” Criança sendo imunizada contra a poliomielite em Porto Velho; paralisia infantil; gotinha; vacinação Divulgação/Prefeitura de Porto Velho E o Brasil? País avança, mas desigualdades preocupam Ao contrário da tendência global apontada pela Fundação Gates, o Brasil tem registrado queda recente na mortalidade infantil, segundo o Ministério da Saúde. Os especialistas ouvidos pela reportagem, porém, fazem um alerta: essa melhora não é homogênea. Eles destacam que existem regiões com 100% de cobertura vacinal e outras, mais vulneráveis, “com índices muito baixos dentro da mesma cidade”: "Essa desigualdade de acesso cria bolsões de risco. Foi o que vimos desde 2016, quando as coberturas começaram a cair e as mortes por doenças imunopreveníveis subiram. Agora estamos recuperando as coberturas, e isso se reflete nos números", diz Cunha. Kfouri complementa que o Brasil tem vantagens — como o SUS e um PNI robusto —, mas não está imune ao cenário global: “Quando há fragilidade sistêmica, a criança é sempre a primeira a adoecer e a primeira a morrer. A lição do mundo vale para nós também: sem cobertura vacinal alta e atenção básica forte, as mortes evitáveis voltam.” O que está em jogo O relatório projeta que cortes internacionais em saúde podem resultar em: 12 milhões de mortes infantis adicionais até 2045, se o corte for de 20%; 16 milhões de mortes, se o corte chegar a 30%. Ao mesmo tempo, inovações já disponíveis poderiam salvar até 9 milhões de crianças no mesmo período — combinando vacinas de nova geração, prevenção de malária e imunização materna. O futuro, dizem os autores, depende de uma escolha global: continuar perdendo terreno ou investir para que as crianças sobrevivam aos primeiros anos de vida, o período mais vulnerável da existência humana. EUA mudam diretriz de vacinação infantil

FONTE: https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/12/09/mundo-pode-registrar-primeira-alta-em-mortes-infantis-em-25-anos.ghtml


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