Criança morre após receber adrenalina na veia e ter 6 paradas cardíacas em hospital de Manaus, denunciam pais
26/11/2025
(Foto: Reprodução) Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, faleceu em hospital de Manaus.
Arquivo pessoal
Os pais de Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, denunciaram nesta terça-feira (25) que o filho morreu após receber uma dosagem incorreta de adrenalina aplicada por via intravenosa no Hospital Santa Júlia, em Manaus. O caso ocorreu entre sábado (23) e a madrugada de domingo (24) e está sendo investigado pela Polícia Civil.
Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Ele contou que Benício foi atendido por uma médica que prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa, 3 ml a cada 30 minutos.
Ao g1, a família afirmou que chegou a questionar uma técnica de enfermagem sobre a aplicação ao ver a prescrição.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, relatou o pai.
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Reação após a aplicação
Segundo Bruno, logo após a primeira dose o menino apresentou piora súbita.
“Ele empalideceu na hora. Ficou branco, os pés amarelaram, o nariz ficou vermelho, os olhos também. Ele se contorceu e disse: ‘Mãe, meu coração está queimando’”, lembrou.
A equipe levou a criança para a sala vermelha, onde o quadro se agravou. A oxigenação caiu para cerca de 75%, e uma segunda médica foi acionada para iniciar o monitoramento cardíaco.
“Já colocaram ele no oxímetro, no monitor. A equipe começou a correr, mas não deixavam ele dormir, porque diziam que o estado estava muito instável”, disse.
Pouco depois, foi solicitado um leito de UTI, e Benício foi transferido no início da noite de sábado.
Intubação e paradas cardíacas
Caso aconteceu no Hospital Santa Júlia, em Manaus.
Arquivo
Na UTI, segundo o pai, o quadro piorou. A equipe informou que seria necessária a intubação, realizada por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas.
“A médica me chamou depois e disse que ele não respondeu bem à intubação. Ela falou em duas paradas cardíacas. A enfermeira corrigiu e disse que foram três. Eu vi meu filho lá, intubado, com sangue na boca”, afirmou.
O pai relatou que o sangramento ocorreu porque a criança vomitou durante a intubação. Após as primeiras paradas, o estado de Benício continuou instável, com oscilações rápidas na oxigenação.
“Eu ficava olhando o monitor. Quando vi a oxigenação despencar de novo, chamei a médica. Logo começaram a preparar para outra parada cardíaca”, disse.
A partir desse momento, Bruno afirmou ter presenciado mais episódios:
4ª parada cardíaca:
“Eu me ajoelhei do lado da cama, orando, apertando o pezinho dele, pedindo para ele voltar. Ele voltou".
5ª parada cardíaca:
“Ele voltou de novo, mas já estava muito debilitado. A gente percebia que ele estava lutando".
6ª parada cardíaca:
A última, segundo o pai, foi a mais longa.
“Ele começou a cuspir sangue pela boca e pelo nariz. A enfermeira que fazia a massagem chegou a parar, e eu perguntei se precisava de ajuda. Ela respondeu: ‘Pode deixar que eu continuo’”.
Em um momento, Bruno acreditou que seria confirmada a morte do filho.
“A médica estava com o estetoscópio, pronta para confirmar. Eu gritei ‘Volta, Benício!’. E ele voltou. Mas já estava em sofrimento extremo”, relatou.
Morte e pedido de justiça
Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, e família.
Arquivo pessoal
Minutos depois, Benício apresentou nova piora e não respondeu às manobras de reanimação. Ele morreu às 2h55 do domingo.
Os pais afirmam que a médica reconheceu falhas no atendimento.
“Ela disse que foi erro de sistema e erro da enfermagem. Mas tudo estava prescrito por ela. A dosagem estava lá, escrita”, disse o pai.
Segundo a família, a dose aplicada não condizia com o quadro do menino.
“Ele só tinha tosse seca. Essa dose é para quem está infartando. A gente entende que foi um erro gravíssimo”, afirmou.
A família registrou Boletim de Ocorrência e prestou depoimento no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP). Eles pedem justiça.
“O delegado nos ouviu a tarde toda. Queremos justiça pelo Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos vivendo. O que a gente quer é que isso nunca mais aconteça. Não desejamos essa dor para ninguém”, disse o pai.
O g1 procurou a Polícia Civil para saber o andamento das investigações sobre o caso e aguarda retorno.
O que diz o hospital
Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que fará uma análise técnica detalhada de todas as etapas do atendimento, conduzida pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.
“Ressaltamos que estamos à disposição das autoridades competentes para prestar todos os esclarecimentos necessários”, afirmou.
Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, faleceu em hospital de Manaus.
Arquivo pessoal